Guia do(s) samba(s) para curiosos: 20 vídeos, livros e discos para entender a história e os estilos de samba

Por onde começar a conhecer um gênero musical?

Eu vejo muitas pessoas que sugerem que se escute discos clássicos, mas sempre que eu escuto um disco sem saber direito o contexto ou o lugar desse disco na obra desse ou daquele músico ou musicista eu me sinto perdido.

É por isso que eu gosto de começar por filmes, livros, entrevistas e outras produções que dão uma visão mais geral, citam nomes importantes e seus discos mais emblemáticos, descrevem o contexto onde essa música é tocada e consumida, etc.

Se você é como eu e gostaria de saber um pouco mais sobre samba (quem é o brasileiro que não sabe nem um pouquinho?) esse pequeno guia é pra você. Através dele, você vai ter uma boa ideia de muitos tipos de sambas diferentes e vai poder escolher por onde você quer ir pra se aprofundar mais. Pelo menos, é isso que eu espero.

Meu objetivo não é citar todos os sambistas e as sambistas mais importantes, mas, sim, ter algo para indicar para saber mais sobre um certo período ou estilo de samba.

Na real, isso que a gente chama por um só nome com cinco letrinhas (samba), na verdade, é algo muito grande com muitas correntes diferentes que passaram por muitos períodos históricos diferentes. Tem samba que nem soa parecido com outros sambas!

Parece fácil aprender sobre o(s) samba(s) e sua(s) história(s) morando no Brasil, mas realmente é difícil saber onde começar nesse mar de sambas.

Já dizia Noel Rosa que “ninguém aprende samba no colégio”. E isso é verdade por duas razões:

Primeiro que o samba não foi sempre o celebrado “símbolo nacional” usado como cartão de visita sempre que uma autoridade internacional vinha visitar o país. Os sambistas foram muito perseguidos e muita gente foi presa ou apanhou muito só por se reunir com violões, cavaquinhos, tambores, pandeiros, tamborins, pratos, entre outros. Muitos foram presos ou tomaram pancada só por andar com esses instrumentos nas ruas.

Claro que um gênero musical como esse levou muito tempo até ser aceito em um ambiente formal como a escola ou “o colégio”, no tempo de Noel. Toda a polêmica que se tem hoje sobre ensinar o funk carioca nas escolas, por exemplo, já aconteceu com o samba por muitas décadas seguidas. Então, a escola teve que “engolir” o samba não faz muito tempo.

A segunda razão é que, na prática, a forma mais certeira de se aprender samba é frequentando os lugares onde ele acontece, conhecendo as pessoas, aprendendo a dançar, a interagir, entendendo quem são os nomes venerados em cada espaço e quais são estigmatizados.

Cada roda tem a sua lógica. Cada roda toca um certo repertório, cada roda tem suas regras de quem senta junto e pega instrumento, quem pede música, enfim… cada tem seus “códigos de etiqueta”, mesmo que a gente consiga ver várias coisas em comum entre elas e que sambistas consigam circular pelas rodas sem grande dificuldade.

Esse texto é pra te apresentar uma lista de referencias pra atiçar a sua curiosidade sobre o samba, gênero esse que fez parte da minha vida desde a infância e me seguiu até minha carreira como músico e acadêmico e pra servir de base pra quem quer se iniciar em um mergulho mais fundo nesse universo riquíssimo.

Essa é a minha lista e, claro diz muito da minha experiência com o samba. Não é a lista “definitiva” nem a melhor, mas vem de alguém que conhece esse gênero com uma boa profundidade tanto em termos de vivência (frequentando rodas, tocando, cantando e compondo) quanto em leituras. Com certeza, vão haver coisas aqui que alguns acham que não devia estar, mas aí está a beleza desse trabalho: eu faço uma lista aqui (e explico minhas razões) você faz uma de lá e isso ajuda a gente a pensar cada vez mais esse gênero que é tão marcante na nossa música.

Minhas escolhas aqui foram feitas pra tentar trazer coisas que ajudam a pensar algumas características do samba e algumas controvérsias que temos no mundo do samba. Pode ter certeza que é uma boa introdução, mas, claro, não é a única forma de se inserir nesse universo. Vou explicando as questões conforme for apresentando o que eu escolhi. Partiu?

A ancestralidade africana do samba

Sankofa: a África que te habita (disponível no Netflix)

O fotógrafo César Fraga e o historiador e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Maurício Barros de Castro visitaram nove países africanos: Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Togo, Benin, Nigéria, Angola e Moçambique. O que esses países têm em comum é que todos foram pontos importantes no tráfico de pretos escravizados e foram aqueles de onde saíram africanos para o Brasil.

O objetivo da viagem foi justamente de visitar nesses países lugares emblemáticos para o período escravista e conhecer a cultura local. Em outras palavras, visitar esses países para ver o que ainda pode ser observado do período da escravidão e o que aquelas culturas têm que nos remete a coisas que conhecemos no Brasil.

O resultado dessa viagem é essa série documental de dez episódios (cada episódio com 25 minutos) na qual há uma clara preocupação de mostrar como características de cada país visitado e de sua cultura aparecem em diferentes regiões do Brasil. Por que a cultura e a música dos negros brasileiros é tão diferente se compararmos Rio de Janeiro, Bahia e Maranhão, por exemplo. Esse é o tipo de pergunta que terá algumas respostas ao assistir essa série porque certas regiões receberam mais africanos de culturas iorubás, outras mais de culturas bantu e isso faz toda a diferença.

Sobre as origens do samba no Rio de Janeiro

Tia Ciata e a Praça onze – Eduardo Bueno (vídeo)

Já vamos começar de forma polêmica: O Eduardo Bueno não é sambista e não conhece a fundo a cultura do samba, mas é um jornalista que tem um canal no Youtube onde fala de História em geral. Pensando em te propiciar um início “de leve”, o vídeo dele vale muito a pena, principalmente pra se pensar esse contexto do início do samba: as tias baianas, a praça onze, a escravidão, o contexto econômico e outras coisas que forma o cenário onde o samba nasce no Rio de Janeiro.

O vídeo tem o cuidado de apresentar as referências (os livros lidos pra produzir esse conteúdo apresentado) com alguns livros importantes, mas nenhum específico da área de Música (a história fala desses assuntos de um jeito e nós de outro), então indico como um “abre-alas” pra te situar na origem do samba no Rio de Janeiro.

A música de Donga  (álbum de 1974)

Na década de 1960 e 70 o selo fonográfico Marcus Pereira apontou para caminhos muito pouco explorados até então. Devemos a essa gravadora a iniciativa de registrar o trabalho de músicos que vinham sendo ignorados pelas grandes gravadoras e também o lançamento de discos que são simplesmente necessários pra pensar a música brasileira hoje. Foi graças a ele que temos a primeira gravação do Cartola em um disco espetacular com arranjos do Dino 7 cordas. E graças a ele também temos esse disco sensacional do Donga executado por um time de primeira. (E, graças ao site Armazém Memória, temos o catálogo completo da gravadora disponível no Youtube)

Donga é tido como o compositor de “Pelo Telefone” o primeiro samba gravado (no ano de 1916) e também é uma pessoa importante no cenário da origem do samba, formando com João da Baiana e Pixinguinha uma espécie de “Santíssima Trindade” dessa fase inicial. O disco todo é muito bom e mostra o quanto a obra dele não se limita nada ao “Pelo Telefone”. Mas o motivo pra eu indicar esse disco é a última faixa.

Nela, ouvimos uma gravação da entrevista que o Donga deu para o Museu da Imagem e do Som em 1966 e, nela, se ouve Donga falar de uma antiga polêmica na história do samba: se ele nasceu “no asfalto” ou no morro (é por essa polêmica que Noel Rosa diz, no mesmo samba já citado, “O samba, na realidade/ Não vem do morro nem lá da cidade”).

Para Donga, não há dúvida. O samba nasceu “na cidade” e depois se espalhou por todo canto, inclusive os morros, mas o mais legal é ouvi-lo contar essa história sobre como as pessoas se encontravam pra fazer as reuniões que hoje chamamos de roda de samba.

Partido-alto: samba de bamba – Nei Lopes (Livro)

Nei Lopes é um autor cuja contribuição para o universo do samba e da ancestralidade afro-brasileira é imensa. O seu primeiro livro (de 1992) “O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical: partido-alto, calango, chula e outras cantorias” é uma boa introdução ao cenário da origem do samba no Rio de Janeiro.

Primeira edição do livro de Nei Lopes

Nele, Nei Lopes analisa o contexto econômico e social do Brasil logo após a abolição da escravatura (1888), a criação das favelas, a Praça Onze, as tias baianas e vários outros fatores que formarão o cenário onde o samba se projeta entre o final do século 19 e o início do 20.

Mas o mais interessante é que essa história é contada usando não só os livros de história disponíveis na época e vários documentos (leis, mapas, fotos, etc.), mas também entrevistas realizadas com nomes fundamentais do samba como Clementina da Silva, Geraldo Babão, Aniceto e outros. E, no final, ele ainda dispõe essas entrevistas transcritas na íntegra.

Em 2005, Nei Lopes lançou esse mesmo livro numa versão que foi revisada e ampliada pelo próprio autor, agora com o nome de Partido alto: samba de bamba.

Partido Alto – Leo Hirszman (Documentário)

O cineasta Leo Hirszman (1937-1987), conhecido por dirigir o clássico “Eles não usam black tie”, também assina a direção desse curta metragem cujo foco é um tipo de samba muito específico: o samba de partido alto.

O samba de partido alto, explicando de forma bem simples, corresponde, no samba, ao que é o repente nordestino ou o rap freestyle. Assim como nesses gêneros musicais, espera-se que o partideiro (nome dado para o sambista que sabe cantar partido alto) saiba improvisar ao longo da música não só a melodia a ser cantada, mas também a letra.

Numa roda de samba que toca partido alto (nem todas tocam, até porque muitos sambistas “não se garantem” nesse tipo de habilidade), o samba inicia com o refrão e todo o resto é improvisado. Numa roda de partido alto não tem assunto proibido: os partideiros podem ficar um bom tempo tirando sarro de um time de futebol e outros partideiros vão responder tirando sarro do time daquele que provocou chamando o assunto. Pode se falar de política, de relações amorosas, de como é preciso “ser bom” pra entrar numa roda de partido alto, etc.

Esse foi o primeiro tipo de samba que existiu. Antigamente, compor um samba significava compor um refrão. O resto era por conta dos partideiros. Para se ter uma ideia, nos primeiros desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro (ainda na década de 1930), um dos quesitos que os jurados davam notas era para os partideiros (ou versadores). Imagina como era tentar escutar o improviso dos partideiros no meio de um monte de instrumentos de percussão!

O documentário (curta metragem) Partido Alto é um passeio pelo universo do samba de partido alto no Rio de Janeiro entre o fim dos anos 1970 e o início dos 80. Mas, tudo o que acontece no documentário se limita apenas aos sambistas da Portela, que tem suas peculiaridades em relação a outras escolas de samba (o que fica pra outro texto).

Essa exclusividade dos partideiros portelenses pode ser explicada pelo fato de Paulinho da Viola ter participado bastante do planejamento do projeto do filme. Conhecido portelense, Paulinho da Viola e Leo Hirszman reuniram um time de peso da Velha-Guarda da Portela para formar rodas de samba com improviso que foram gravadas. Nessas rodas se vê nomes fundamentais do samba carioca como Candeia, Tantinho da Mangueira, Argemiro, Casquinha, Manacéia, o próprio Paulinho da Viola, entre outros.

O filme inicia com nada menos do que Candeia, um compositor importantíssimo para a comunidade da Portela (escola de samba do bairro de Oswaldo Cruz), explicando o que é o samba de partido alto e pedindo para partideiros dizerem o seu verso no partido “Quem mandou duvidar”. Não faltam as pastoras (como são chamadas as mulheres que cantam em coro o refrão dos sambas) e demonstrações de dança pra se ter uma boa ideia do “pacote completo”.
E o documentário termina com uma roda de samba em um quintal tomando batida de limão (a bebida mais comum naquela época para os sambistas. Cerveja era luxo). Se você quer entender o samba de partido alto, nada mais “raiz” que isso! Mas, nessa época, o partido alto vinha caindo no esquecimento, dando lugar tanto a um partido alto onde a letra está definida (sem improvisação) cujo maior representante é Martinho da Vila, quanto a sambas já sob influencia da bossa nova. Esse é, então, um registro do partido alto em um período mais tardio. Só algumas décadas depois, já no século 21, esse tipo de samba voltaria a ser executado com mais frequência nas rodas.

Nessa roda no fim do documentário, diversos nomes importantíssimos da história da Portela improvisam e que sorte termos esse registro! É por isso que, na minha opinião, esse documentário não pode faltar.

O samba se espalhando para fora do “gueto”

O Mistério do Samba – Hermano Viana (Livro)

O livro de Hermano Vianna foi publicado em 1995 e já se tornou um clássico da literatura sobre o samba. O livro todo se dedica a responder uma só pergunta: como é que um gênero musical que até mais ou menos 1930 foi símbolo de “vadiagem” e foi tratado pela polícia como crime (muita gente apanhou feio, foi presa ou teve instrumentos quebrados ou apreendidos) acabou se tornando “símbolo nacional” a ponto de ser exportado para o exterior (via Carmen Miranda, principalmente no início).

Hermano Vianna mostra em seu livro como o governo Getúlio Vargas viu no samba um canal para difundir o seu nacionalismo exaltando a beleza da natureza brasileira e as virtudes dos seus cidadãos e como isso se difundiu. É daí que vem o gênero de samba hoje conhecido como “samba exaltação” cujas letras serviam tanto pra fazer “menções honrosas” à nação ajudar a construir uma “cultura do trabalho” (isso vem 40 anos depois da abolição da escravatura. Imagine que trabalho não era algo bem visto em um país que tinha escravos pra fazer todo o trabalho pesado).

O interessante da escrita do Hermano Vianna é que ele não é músico (apesar de ser irmão do Herbert Vianna da banda Paralamas do Sucesso, Hermano é antropólogo), então não abusa do jargão musical e tem uma escrita muito acessível e interessante.

Paulo da Portela: o teu nome não caiu no esquecimento – Dermeval Netto (Documentário)

A participação de Getúlio Vargas na história do samba não se resume a incentivar o samba exaltação. O governo Getúlio foi decisivo não só na aceitação das escolas de samba (que foram fundamentais pra história do samba no Rio de Janeiro) e na regulamentação do carnaval competitivo que conhecemos hoje. Foi em seu governo que os desfiles das escolas de samba começaram a se realizar e sua exigência de que os sambas cantados nos desfiles celebrassem o Brasil, sua história e seus “heróis” foi a responsável pela criação do “samba-enredo” que conhecemos hoje.

Mas o movimento de aceitação e respeito pelas escolas de samba não se deve apenas ao governo. Milhares de sambistas construíram essa história fazendo do samba e do carnaval os melhores eventos possíveis, mesmo com todas as restrições que o governo impunha.

Entre esses milhares de sambistas, não há dúvida de que o nome mais importante e celebrado é o de Paulo da Portela, fundador da Escola de Samba Portela e seu primeiro presidente. Paulo e a Portela foram fundamentais na redefinição da imagem social do sambista, tradicionalmente visto como “malandro” e “vagabundo”. Exigindo que todos aqueles que desfilavam usassem as cores da escola e portando-se sempre conforme as “regras de etiqueta” da época, Paulo contribuiu muito para que as escolas de samba tivessem prestígio de artistas, o que marcou toda a história do samba no Rio de Janeiro dali em diante.

O documentário dirigido por Dermeval Neto foi lançado em 2001, quando Paulo da Portela completaria 100 anos, e traz entrevistas com diversos nomes importantes da Velha Guarda da Portela (que conviveram com Paulo) falando dele e de seu legado. O título do documentário faz referência a um samba que Paulo compôs quando se desentendeu com a diretoria da Portela e saiu da escola: O meu nome já caiu no esquecimento.  No samba, Paulo se queixa de não ter mais prestígio na escola e encerra dizendo “Chora Portela/ Minha Portela querida/ Eu que te fundei/ serás minha toda vida”.

Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro, 1917-1933 – Carlos Sandroni (Livro)

O etnomusicólogo Carlos Sandroni publicou esse livro que é fruto da sua pesquisa de doutorado. Nesse livro, Carlos apresenta uma análise musical da diferença entre os sambas realizados antes da década de 1930 e depois dela.

Essa diferença já tinha sido apontada por autores clássicos como José Ramos Tinhorão, mas essa diferença não tinha ainda sido descrita e analisada em seu contexto. Em outras palavras, não tínhamos ainda uma explicação consistente para o fato de que o primeiro samba gravado (Pelo telefone, gravado em 1917) soa muito diferente ritmicamente do que entendemos como samba hoje. Hoje, “Pelo Telefone” soa mais como um maxixe (também chamado de Tango Brasileiro) do que como samba.

É essa diferença que Carlos Sandroni se ocupa de explicar no livro através de diversas análises de gravações e entrevistas. É nesse livro que Carlos apresenta o conceito de “Paradigma do Estácio” nome dado à estrutura rítmica do samba que ganha vida na década de 1920 entre compositores da escola de samba Estácio de Sá (entre eles, Ismael Silva que dizia ter inventado essa batida diferente).

Se ainda tá na dúvida de ler o livro, vale dar uma olhada na série de 5 vídeos curtos nos quais Carlos Sandroni explica as principais ideias do livro e mostra algumas diferenças em seu violão

A Era do Rádio no Brasil – Multishow (Documentário)

O samba ganhou o Brasil através do Rádio e foi porque as grandes rádios nacionais (tomadas como referência para as demais) estavam no Rio de Janeiro (na época, capital do país) que o samba carioca se tornou a referência de samba em todo o Brasil.  Foi também por causa da projeção que o samba ganhou como produto artístico e patriótico que o cenário do samba foi se “embranquecendo” cada vez mais.

O samba rompe a barreira dos guetos negros do Rio de Janeiro através da rádio, mas sobretudo através de intérpretes de samba brancos que se encarregaram de aproximar a classe média desse gênero musical. É com a rádio que nomes como Noel Rosa, Ary Barroso, Francisco Alves e Carmen Miranda ganharam a enorme projeção que tiveram nas décadas de 1930 e 40 (verdadeiros pop stars da época).

Esse documentário produzido pelo Multishow traz o depoimento de dezenas de pessoas que viveram aquele período ou pesquisaram sobre e traz uma série de histórias e curiosidades que te ajudarão a entender em que contexto e de que forma o samba carioca se projetou para todo o país.

https://www.youtube.com/watch?v=dP4U4yDi6vY

 

Vinícius de Moraes – Miguel Faria Jr. (Filme)

Essa aproximação do samba com a classe média foi o que tornou a bossa nova, como a conhecemos, possível. As reuniões na casa de Nara Leão e as aproximações de Carlos Lyra com o samba do morro nas décadas de 1950 e 1960 foram um marco importante para a bossa nova.

Nara Leão, Cartola e Zé Keti. Uma conversa entre sambistas do morro e uma jovem de classe média

A história “oficial” da bossa nova sempre enfatizou essa “harmonia racial” marcada por jovens de classe média “sofisticando” o “bruto” samba do morro que gerou o gênero musical brasileiro mais conhecido internacionalmente. Recentemente, essa versão vem sendo contestada principalmente por críticas ao apagamento do papel central de Johnny Alf (preto e homossexual) e de Alaíde Costa (preta) no surgimento da bossa nova. Recente entrevista de Gilberto Gil também nos apresentou uma imagem diferente das reuniões dos jovens compositores e compositoras da bossa nova que, se imaginava, bebiam whisky enquanto compunham suas músicas sobre barquinhos, praias e paixões por lindas mulheres. Segundo Gil, não existiria a bossa nova sem maconha.

Todas essas informações dão uma outra perspectiva para o contexto de formação do movimento da bossa nova.

O filme Vinícius de Moraes de Miguel (Disponível na Netflix) de Faria Jr. foi lançado em 2005 e não traz essa postura de revisão da história oficial. No filme, temos uma biografia de Vinícius de Moraes, um diplomata (aposentado à força assim que o AI-5 foi publicado pela ditadura militar em 1968) boêmio e um importante poeta que tinha um talento enorme de reunir intelectuais diversos e pessoas interessadas em poesia e música à sua volta. Vinícius foi, talvez, o “letrista oficial” da bossa nova, ainda que também tenha composto músicas sozinho.

Escolhi esse filme porque ele dá uma boa referência do que era o Rio de Janeiro da classe média nas décadas de 1950, 1960 e 1970 e como figuras como Vinícius de Moraes representavam o cimento capaz de unir figuras muito diferentes em torno desse movimento que chamamos de bossa nova.

Simonal: ninguém sabe o duro que dei – Micael Langer, Claudio Manoel, Calvito Leal (Filme)

Descrever o Wilson Simonal como cantor é subestimar o que esse show man foi. Infelizmente, tenho que usar a expressão em inglês “show man” porque sinto que não temos bem uma palavra no português pra poder descrever artistas que cantam, tocam, dançam, atuam, fazem piadas, animam a plateia e outras muitas coisas que eram comuns entre artistas dos EUA, principalmente, no início dos filmes coloridos: Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. Gene Kelly, entre outros(as) tantos(as). Para artistas assim, a língua inglesa usa tanto show man quanto entertainer (aquele que entretêm).

Nas décadas de 1960 e 1970, quando o “iê iê iê” da Jovem Guarda tomou conta do mercado musical brasileiro, apenas um gênero musical mostrou-se concorrente à altura de Roberto, Erasmo e Wanderléa e esse gênero era conhecido como Pilantragem e a locomotiva que puxava esse movimento se chamava Wilson Simonal.

Em uma época do pós-segunda guerra em que a ideia de juventude passou a ser uma referência de renovação da cultural e da política, movimentos jovens surgiam por todo o lado. É nessa era que os galãs dos filmes passam a ser jovens na casa dos 20 (quem já viu E o vento levou nem sempre se lembra que esse filme de 1940 tinha como galã Clark Gable com seus quase 40 anos), o rock ganha mais e mais projeção como música de jovens, Beatles, James Dean no cinema, movimento hippie, John Kenedy eleito presidente dos EUA com apenas(!) 43 anos, calças jeans (antes, roupa de operários, agora marca de juventude), jovens participando cada vez mais da política (movimentos contra a ditaduras militares e colonialismo em toda América Latina e África, movimento pelos direitos civis nos EUA, maio de 68 na França). Para todo canto que se olhava, os jovens demandavam espaço para viver como bem entendiam sem pedir permissão para as gerações anteriores.

Antes chamada de samba-jovem, a pilantragem foi o correspondente dessa geração no samba. Com letras que eram um elogio à malandragem, o “jeitinho brasileiro”, a curtição e a “falta de princípios”, a Pilantragem foi um enorme fenômeno cultural e de mercado que se encerrou de forma abrupta quando Wilson Simonal foi acusado de entregar militantes de esquerda para os militares em plena ditadura.

Os artistas e revistas ligados à esquerda boicotaram de todas as formas possíveis o trabalho de Simonal a ponto de cancelar muitos shows e aparições em eventos, TV e rádio. Simonal que tinha uma vida muito confortável com mansão e carros de luxo (possivelmente, o primeiro artista preto a ter condição semelhante, o que não era lá super bem visto pela sociedade branca da época) acabou sua carreira endividado e sem condições de seguir com a carreira.

Com a abertura dos arquivos da ditadura, depois de 1988, Simonal pôde provar que não tinha colaborado com os militares, mas já era tarde demais.

O documentário conta essa história usando muitas imagens de arquivo, jornais e entrevistas, o que é um prato cheio pra compreender esse contexto em que o samba se alinha à cultura jovem brasileira.

Recentemente, saiu um filme sobre o Simonal, dessa vez, não como documentário, mas, sim, interpretado por diversos atores. Ainda não vi, mas você vê o trailer e pode alugar o comprar o vídeo aqui.

Clube do Samba – TV GLOBO

O movimento do Clube do Samba ainda merece ser melhor pesquisado e documentado. O que eu tenho pra indicar agora é uma pequena matéria da TV Globo que mostra a festa de inauguração do clube com presenças ilustres como Beth Carvalho, Clementina de Jesus, Clara Nunes, Martinho da Vila e João Nogueira, entre outros(as).

Saindo da década de 1960, um dos poucos sambistas que ainda faziam samba com grande aceitação popular foi Martinho da Vila, mas logo Beth Carvalho, Clara Nunes e João Nogueira passariam a aparecer mais e vem do João Nogueira a ideia de que os sambistas deveriam se unir pra valorizar seu trabalho e buscar mais espaço no mercado musical, já que a década de 70 foi praticamente dominada pela música disco, apesar de termos diversos lançamentos importantes para o samba nessa década.

É daí que nasceu o Clube do Samba que teve um papel importante em divulgar os sambistas da época e tinha um certo discurso anti-imperialista e anticolonial de crítica ao predomínio da música estadounidense nas rádios brasileiras.  Reunindo os grandes nomes do samba carioca, o Clube do Samba foi também um bloco de carnaval.

Onde a coruja dorme (Bezerra da Silva) – Márcia Derraik e Simplício Neto (Documentário)

Márcia Derraik e Simplício Neto começaram a gravar em 1998 um documentário sobre os compositores de samba que o sambista Bezerra da Silva gravou ao longo da sua carreira, praticamente todos moradores dos morros cariocas em um período em que os compositores e intérpretes tendiam a morar “na cidade”, saindo do morro. Esse filme só foi lançado em 2001 e traz diversas histórias dos compositores gravados por Bezerra.

Bezerra da Silva está para o samba assim como o gangsta rap está para o rap. Foi um marco em exercer a liberdade de cantar a realidade do morro em diversos sentidos, inclusive a relação entre “malandros” e “manés”, tráfico de drogas, uso de drogas (“Vou apertar, mas não vou ascender agora” e “Tem coca aí na geladeira”, entre outros), a violência policial, o sistema prisional, entre muitas outras coisas.

Bezerra começou sua carreira na década de 60, quando ainda cantava cocos. Na década de 1970 lança seus primeiros discos em uma época em que as letras dos sambas falavam das festas, das relações de amor, mas não abordavam a imagem que os morros tinham nos noticiários. Bezerra foi o sambista que ousou gravar compositores que diziam “é aqui que eu moro, essa é a realidade daqui e eu não me envergonho dela”.

 

https://www.youtube.com/watch?v=fSs0X1RPLuU

O Som do Vinil: Fundo de Quintal – Charles Gavin (Programa de TV) e Isto é Fundo de Quintal – Karla Sabah (Documentário)

No início da década de 1980, aquela turma que estava envolvida com o Clube do Samba, em especial Beth Carvalho, começou a ouvir falar de uma roda de samba que acontecia em Ramos no Rio de Janeiro, fruto de um bloco de carnaval chamado Cacique de Ramos. Foi essa roda que deu origem não só ao grupo Fundo de Quintal, mas a toda a geração de sambistas que estouraram nos anos 80 e adiante: Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Jovelina Pérola Negra, entre muitos outros. Todos eles e elas se reuniam nas rodas do Cacique, onde as rodas de samba de partido alto duravam horas enquanto lendas do improviso se enfrentavam (os principais eram Almir Guineto, Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho).

Foi nessa roda que tivemos também a aparição de instrumentos que, hoje, são comuns nas rodas, como o banjo (adaptação do banjo dos EUA criado por Almir Guineto) e o repique de mão (criado por Ubirany). Esses novos instrumentos, aliados a um time incrível de sambistas praticamente definiu o que seria a sonoridade do samba dali em diante (com a sonoridade do pandeiro com pele de nylon em vez do tradicional couro animal).

Com a ajuda de Beth Carvalho que se esforçou para mostrar o trabalho dessa turma do Cacique (chamou eles pra gravar, gravou composições deles e ajudou a lançar carreiras solos como a do Zeca) o Fundo de Quintal ficou conhecido em nível nacional rapidamente e, por isso, até a sua morte, Beth era chamada de madrinha por todos aqueles que vieram dessa geração do Cacique. Os músicos do Fundo de Quintal gravaram centenas de discos de outros sambistas desde então e prepararam o terreno pra todo o movimento do pagode dos anos 90 que conhecemos bem.

O programa O Som do Vinil (Canal Brasil) comandado por Charles Gavin (músico dos Titãs) entrevistou Bira (presidente do bloco Cacique de Ramos) e seu irmão Ubirany pra falar sobre o contexto da gravação do primeiro disco do Fundo de Quintal e essa conversa vale muito a pena pra entender essa verdadeira guinada que o samba deu nessa época.

Também trago aqui o documentário “Isto é fundo de Quintal” de Karla Sabah que mostra o local onde tudo começou e entrevista diversas outras pessoas que fazem parte dessa história.

https://www.youtube.com/watch?v=29zHOd4UNCo

Do samba ao funk do Jorjão: ritmos, mitos e ledos enganos no enredo de um samba chamado Brasil – Spirito Santo (Livro)

Parafraseando Silvio Santos, “eu não li, mas dizem que é muito bom”.

Eu pesquisei muito sobre samba na década de 2000, quando tinha interesse em pesquisar samba no mestrado, mas muita coisa aconteceu e acabei mudando de foco. Acho que foi por isso que acabei não enfrentando esse livro publicado em 2016, mas, desde o lançamento, só ouço boas referências, como a resenha que o musicólogo Carlos Palombini escreveu sobre o livro.

Palombini diz na resenha,

Em meio a descrições musicais, organológicas, iconográficas e coreográficas informadas pela geografia cultural, Spirito Santo contesta vários mitos — o da hegemonia das culturas yoruba e fon, o da casa de tia Ciata enquanto berço do samba, o da trirracialidade musical — para denunciar o racismo estrutural da historiografia da música brasileira.
Não vou me meter a comentar um livro que não li, mas já indiquei pra vários amigos e sigo o Spirito Santo no seu blog e no Facebook (onde sempre compartilha suas pesquisas com seus leitores).

O samba fora do Rio de Janeiro

Samba a paulista – Gustavo Mello, TV Cultura (Série documental)

São Paulo já foi chamada de Cemitério do samba, de forma bem injusta por sinal. O samba de São Paulo não se limita a Adoniran Barbosa e tem uma longa história de sambistas que vieram antes do Pagode dos anos 90 (que foi um movimento de nível nacional muito forte, mas com predomínio de grupos paulistas)

O documentário dirigido por Gustavo Mello foi veiculado pela TV Cultura e mostra uma história do samba de São Paulo que costumeiramente é pouco mencionada quando falamos da história do samba (ainda nos centramos demais no samba carioca).

Luis Vagner (Projeto Gema) e Paraquedas- Francisco Cadaval (Série documental)

O Samba-Rock surgiu no Rio Grande do Sul pelas mãos de Bedeu, Alexandre e Luis Vagner. Mas tarde, Luis Vagner ingressou na banda do maior ícone desse gênero musical, Jorge Benjor, tocando baixo.

Essa pequena série documental conta um pouco dessa história. Realizada por um grupo de músicos e produtores de Porto Alegre, essa série é a base do Projeto Gema que se dedica a apresentar a diversidade musical presente no Rio Grande do Sul. Além de Luis Vagner, conhecido pelo samba-rock ainda muito forte em Porto Alegre, o projeto apresenta também o sambista Paraquedas (que eu tive a honra de acompanhar algumas vezes).

https://www.youtube.com/watch?v=mU5Yoe6luKM

Samba Riachão – Jorge Alfredo (Documentário)

Existe uma disputa antiga entre pessoas que dizem que o samba nasceu na Bahia e as que dizem que nasceu no Rio de Janeiro. O fato é que o samba baiano tem uma trajetória particular que parte do samba de roda e vai desaguar no axé, como eu já comentei aqui.

O documentário de Jorge Alfredo lançado em 2001 apresenta a história de Riachão, sambista baiano que, se você não conhece diretamente, conhece da gravação de Cássia Eller (“Vai morar com o diabo que é imortal”). Mas, mais do que isso, o documentário é um mergulho na história do samba da Bahia. Entre o samba de roda e a chula, o filme mostra o contexto da formação desse compositor com depoimentos de diversos músicos e pesquisadores baianos.

Pra finalizar

Isso é tudo? Nem de longe! Mas tem um pouquinho de várias coisas diferentes pra você ter noção de como esse gênero se transformou ao longo do tempo.

Muitas coisas ainda faltam ter material pra eu poder indicar. A falta de material sobre o Pagode dos anos 90 é “imperdoável” (apesar de ter centenas de materiais espalhados pela internet, mas ainda não encontrei nenhum que se dispusesse a apresentar uma síntese disso tudo).

E o samba de vários outros estados ainda precisa ser melhor documentado (tenho certeza que vários eu não apresentei aqui simplesmente porque eu não conheço).

Mas, acima de tudo, acho que essa é uma boa hora de a gente tentar contar a história do samba sem se concentrar tanto no samba do Rio de Janeiro, que é muito bom e formou quase toda minha história como sambista, mas não pode ser tratado como se fosse o todo e os demais estados as partes.

Sei que esse guia não é um bom exemplo de história do samba não centrada no Rio de Janeiro, mas é um começo pra gente ir puxando essa conversa.

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18 comentários em “Guia do(s) samba(s) para curiosos: 20 vídeos, livros e discos para entender a história e os estilos de samba”

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